Já era tarde, todos ocupados demais com seus vícios, beijos, blues e poesias e o homem maltrapilho, sujo e barbado continuava a falar. Ele não me deixava escutar a música que eu gostava, ou os assuntos ditos gritados na minha roda de amigos, não me deixava prestar atenção nos passos do meu querido odiado, nos olhos dos que me olhavam etc.
Tudo porque nele eu via além daquela aparência, consegui naquela noite enxergar seu coração, coração este que gritava desesperado por uma alma solidária que lhe emprestasse os ouvidos por alguns minutos ou quem sabe horas.
Um homem carente, uma alma aflita. Se eu perdi meu pai e achava muito, passei a debulhar em lágrimas ao saber que família ele não tinha. Sua companhia eram aquelas pessoas que se iludindo acreditava estarem dando atenção a ele.
Porém muito ele dizia sobre o amor, e nunca vi alguém que soubesse descrever tão sabiamente algo que muitos desconhecem como ele soube.
Se apenas o escutassem, dessem créditos às suas frases que muito me fizeram pensar. Mas nem eu tive coragem de me aproximar, ouví-o disfarçadamente.
Ah senhor sua sabedoria me impressionou, seus dizeres me iludiram fazendo-me acreditar que meu príncipe ainda possa aparecer! Mas temo serem falácias de um louco alcoolizado com vergonha de voltar para sua residência.
Mas se fores mias um louco, de nada me surpreenderia porque no mundo em que vivemos e da forma que vivemos poucos são os que como loucos não podem ser denominados.
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